Eu vi ipês vermelhos. Senti o cheiro da chuva e o uivar do vento sobre a minha pele. Então eu soube. Eu estava viva. Era mais do que isso. Eu me sentia viva. Fazia muito tempo que não me sentia assim. Viva de fato.
O barulho dos carros me encantou. O céu estava nublado. Eu fumava um cigarro e observava tudo ao meu redor. Eu parei e apenas observei o espetáculo da vida. Cada detalhe. Então eu entendi. Algo havia despertado dentro de mim.
Ele estava certo. Liberte seu texto. Olhe para a sua escrita com encanto, leveza e coragem. Então, num passe de segundo, em me senti livre.
Mais do que isso. Me senti apaixonada por cada palavra que escorre dos meus dedos, porque sei que elas não nasceram apenas aqui e agora, elas falam por uma vida inteira.
Quando eu vim ao mundo eu era uma folha de papel em branco. Cada pessoa que conheci, cada livro que li, cada série, cada filme, cada espetáculo, cada conversa, cada encontro com outras vidas me trouxeram novas palavras e me fizeram chegar até aqui.
Quem aqui vos fala não é apenas a Flaviana-adulta-pagadoradeboletos, mas aquela menina de 12 anos de idade que escrevia sobre mágicos e mariposas.
É como se eu tivesse finalmente lembrado a dimensão e o poder das palavras. Agora eu posso sentir a magia e toda a beleza de estar aqui, me compartilhando por meio de rabiscos, versos e prosas.
As palavras? Elas se reinventam, se reencaixam, se realinham, se reformulam, se recriam a cada linha, a cada texto, a cada livro. É justamente esse processo de reinvenção que tanto me encanta.
São livres em sua essência e se permitem arranjos múltiplos.
Então eu me pergunto: quem sou eu para querer aprisioná-las? Não, eu liberto agora todas as palavras que jazem em mim, com a confiança de que elas encontrarão o seu caminho.
Com a confiança de que minhas vivências me ajudarão a reger a orquestra textual com alma e verdade.
Quero vê-las dançando, pulando e saltitando.
Talvez essa seja a maior lição de hoje. Isto aqui é sobre sentir-se livre, é sobre libertar-se, é sobre fazer escolhas.
Eu escolho ser livre.
“Eu não faço literatura: eu apenas vivo ao correr do tempo. O resultado fatal de eu viver é o ato de escrever.”
Clarice Lispector
Sou Flaviana Alves, escritora que percorre o mundo fazendo voluntariado e expedições literárias e compartilha vivências e reflexões sob a ótica de uma viajante mulher, negra e nordestina. Acompanhe meus relatos diários no IG.